Aparecimento de pedras e bancos de areia assusta até mesmo os moradores mais antigos do balneário
A estiagem que assola o Rio Grande do Sul castiga também um dos maiores rios gaúchos: o Jacuí. O nível na barragem do Anel de Dom Marco, no município de Rio Pardo, está em 5,5 metros, enquanto o normal é de 7 metros. No Balneário Porto Ferreira, o nível baixo do manancial deixa pedras, bancos de areia e parte do leito à mostra.
A dona de casa Silvia Mitereschi de Castro, de 58 anos, é moradora do balneário há 21 anos. Figura conhecida entre a vizinhança, diariamente faz fotografias e confere a altura do rio. “Coloco as imagens e as informações nos grupos de moradores. A situação está assustadora. Desde 2012 não víamos uma seca tão grande.”
O aposentado Carlos Roberto Almeida da Silva, o Magrão, tem casa no Porto Ferreira há 25 anos, na Rua Cascata, mas frequenta o balneário há mais de três décadas. “Tenho residência em Santa Cruz do Sul, mas passo a maior parte do tempo aqui. É meu refúgio. Por isso é tão triste ver a situação do nosso rio.” Magrão foi presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Balneário Porto Ferreira durante quatro anos, até o fim do último mês de março. “Em todo esse tempo que venho para vá, a única vez que vi o Rio Jacuí tão raso foi em 2012, mas o nível não ficou baixo por tanto tempo. A situação se alastra desde dezembro.”
Até metade de novembro do ano passado, a situação era de enchente. No entanto, de lá para cá, a falta de chuvas agrava as condições do rio semanalmente. “Tem partes onde dá para ir até quase metade do rio a pé. Quem conhece ainda passa de barco pelo canal, que é a parte mais funda, mas somente com embarcações pequenas. Os areeiros não navegam há tempo”, contou. Conforme Magrão, a torcida é para que a chuva volte logo para recuperar o nível do rio. “Mas tem que ser muita chuva e em uma frequência muito grande, especialmente na cabeceira, em Passo Fundo”, reforçou. Nesse domingo, o nível do Rio Jacuí no Balneário Porto Ferreira era de 5,5 metros.
Frequentador desde criança da Praia dos Ingazeiros, o secretário de Turismo e Cultura de Rio Pardo, Cícero Garcia, de 40 anos, afirmou que nunca viu o balneário com o nível da água tão baixo há tanto tempo. “Em 2012 até ficou um pouco mais baixo, mas foi por pouco tempo. Agora já estamos nessa situação desde antes de janeiro”, comenta. Garcia relata que em vários pontos é possível ver pedras que antes ficavam submersas.
Pescaria escassa
Com 54 anos, o comerciante Derli Prado dos Santos é natural de Porto Ferreira, onde tem um bar e peixaria. Segundo ele, a disponibilidade de peixes é precária devido ao nível baixo do rio. “Logo que começou a baixar, houve muita pesca e agora sentimos os reflexos”, revelou. A última pescaria do morador foi na semana passada, quando conseguiu apenas a terceira parte do que seria normal. Até mesmo para navegar com o pequeno barco está arriscado. “O motor pode bater nos bancos de areia no fundo do rio.”
Atualmente, fisgar uma traíra é praticamente impossível. “Ainda se pesca piava e cascudo. A escassez deve se estender por um bom tempo, mesmo que volte a chuva.” Diante desse cenário, Santos planeja organizar um repovoamento de peixes, junto a outros apoiadores.
GIRO DE BARCO
Com casa de veraneio em Porto Ferreira, Roberto Stroher percorreu parte do Jacuí com uma embarcação e registrou as marcas da estiagem no rio, na sexta-feira. Um dos pontos mais marcantes fica pouco abaixo do balneário, na primeira curva, onde aparecem pedras e areia em grande parte do leito.