As BRs 386, 116, 290, 285 e 392 tiveram 307 óbitos, ou 32% do total registrado nas vias federais e estaduais no ano passado
Cinco rodovias concentraram 32% do total de mortes registradas nas rodovias federais e estaduais no Rio Grande do Sul em 2019. Dos 962 óbitos no ano passado, 307 ocorreram nas BRs 386, 116, 290, 285 e 392, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS).
A BR-386, que tem extensão de 360,2 quilômetros dentro do Estado (de Iraí a Canoas), é a campeã no ranking, concentrando 88 mortes no período. A rodovia da produção, como é conhecida, por escoar boa parte do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho, é seguida de perto pela BR-116 (Vacaria-Jaguarão), e pela BR-290 (Uruguaiana-Osório). Além do grande tamanho, essas três rodovias têm outras similaridades, como trechos sem duplicação ou com obras pendentes.
Ao explicar os motivos que colocam as BRs 386, 116 e 290 no topo das rodovias com mais mortes no ano passado, o chefe de comunicação social da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Estado, Felipe Barth, destaca que essas três estradas são entrada e saída da região metropolitana de Porto Alegre. De acordo com Barth, os tipos de acidente variam nessas vias, conforme o trecho:
— Vou dar um exemplo: na BR-290, na saída de Porto Alegre, a maior parte das mortes ocorre por atropelamento de pedestres que tentam atravessar a rodovia. Já para os lados de Uruguaiana, as principais causas de acidente são colisão frontal e saída de pista.
No ano passado, dois casos chamaram atenção na BR-386. No primeiro, registrado em abril, seis pessoas – cinco da mesma família – perderam a vida em uma colisão frontal entre dois veículos na altura do km 257 da rodovia, em Fontoura Xavier, no Norte.
Quatro meses depois, seis pessoas da mesma família morreram em razão do choque entre dois carros, no km 236, no município de Soledade, também no norte do Estado.
Sobre o caso da BR-386, Barth reforça o fato de a rodovia comportar boa parte do transporte no Estado e cita o trecho mais ao norte da via como um dos pontos com maior número de acidentes com vítimas:
— Na BR-386, o destaque é naquela serra antes de Soledade, onde o relevo contribui para a ocorrência de acidentes.
Pistas precisam de mudanças, diz professora
Professora de mobilidade e infraestrutura da Unisinos, Danielle de Souza Clerman entende que, além da prevenção e da prudência por parte dos motoristas, as características geométricas das rodovias com maior concentração de mortes também têm de ser levadas em conta na hora de combater a mortandade nas estradas. Segundo a profissional, algumas pistas foram projetadas em determinada época e precisam de mudanças para se adequarem ao cenário atual de tráfego:
— A gente consegue avaliar a severidades desses pontos com maior número de acidentes e fazer intervenções na geometria da rodovia, na sinalização, na pintura. Isso vai auxiliar a chamar a atenção do motorista e tentar diminuir o número de acidentes. É uma contribuição que a via pode dar para tornar os locais mais seguros.
Engenheiro civil e doutor em Transportes da UFRGS, João Fortini Albano cita a existência de grandes trechos com pista simples como um dos fatores que ajudam a explicar a mortandade nas rodovias. Segundo o especialista, a ausência de duplicação somada à imprudência dos motoristas que ultrapassam o limite de velocidade aumentam o risco de colisão frontal.
Os dados
A BR-386 é a campeã no número de mortes em 2019, seguida pela
BR-116 e BR-290